Durante anos, nós médicos utilizamos as famosas fichas de papel para registrar a evolução dos pacientes nos prontuários. Lembro que, durante a residência, alguns pacientes antigos tinham prontuários tão grandes que precisavam de vários “volumes”. Eram pilhas de envelopes que ocupavam toda a bancada dos ambulatórios, e ler todas aquelas fichas era um trabalho bastante demorado. Ao longo dos anos, era comum sumirem folhas do prontuário, e com isso informações importantes dos pacientes simplesmente eram perdidas, e como consequência, levava a repetição desnecessária de exames. Além disso, as informações que estavam escritas muitas vezes eram difíceis de compreender, devido à caligrafia ruim e escassez de informações.
Com a evolução dos computadores e das tecnologias de internet, surgiram os arquivos de texto, depois os sistemas de prontuário eletrônico locais, e hoje existem os sistemas web com armazenamento na nuvem. Essa mudança permite que se tenha acesso, em um só local, a todo o histórico médico do paciente, não só das evoluções médicas, mas também arquivos digitais de todos os exames laboratoriais e de imagem desse paciente. Por utilizar armazenamento na nuvem, a segurança desses dados é muito grande, e é possível dizer que essas informações estarão disponíveis de forma vitalícia aos pacientes.
Além dos dados do prontuário dos pacientes, os sistemas e as plataformas de saúde eletrônicos permitem gerar relatórios com informações importantes para a gestão do sistema de saúde, e através da análise complexa desses dados, podemos tomar decisões assertivas que levam a melhor otimização do tempo, facilitação dos processos internos, troca de informações e terminam por reduzir os custos e otimizando os resultados financeiros das clínicas e hospitais. Esse tipo de análise não é possível com prontuários de papel.
Hoje fala-se muito em “Big Data”, que é o nome usado para denominar o enorme conjunto de informações geradas nos dias de hoje em servidores de bancos de dados, que ainda não pode ser processada pelos programas atuais. Ele envolve análise, captura, curadoria de dados, pesquisa, compartilhamento, armazenamento, transferência, visualização e informações sobre privacidade dos dados. Porém, na Saúde, esses dados ainda não podem ser adequadamente analisados pois a maioria dos sistemas de prontuário não possuem interoperabilidade. Dessa forma, apesar de já termos uma grande evolução em relação às fichas de papel, a análise dos dados ainda é feita de maneira micro, mas que pode ter um grande impacto no seu ambiente de trabalho. Futuramente, a evolução dos sistemas irá permitir a tomada de decisões de impacto a nível macro e global.
Outro aspecto importante da mudança do sistema de papel para os sistemas eletrônicos é o impacto ecológico, pois com toda a burocracia dos planos de saúde e a necessidade cada vez maior da documentação de todos os processos para maior segurança do paciente, toneladas de papel são gastas diariamente, e elas precisam ser armazenadas por período de 20 anos. Isso demanda muito espaço para guardar todos esses arquivos. No entanto, hoje existem tecnologias de digitalização com certificação digital que substituem com vantagens os arquivos de papel, e permitem um fácil acesso a qualquer momento.
A otimização do tempo para acessar os arquivos também é um ponto importante a ser ressaltado. Processos manuais demandam maior tempo, requerem mais pessoas trabalhando e estão sujeitos a erro humano. A informatização dos prontuários permite que os funcionários possam focar o seu tempo em um atendimento mais humanizado aos pacientes, e a automatização de processos como por exemplo a auditoria das guias de convênio pode reduzir brutalmente as glosas dos convênios, e pode ser a diferença entre uma clínica financeiramente viável ou não.
Outro ponto interessante dos prontuários eletrônicos é que eles permitem um contato mais próximo do médico com o paciente, pois permite o envio de informações, receitas, orientações e outros diretamente para o paciente através de e-mails, mensagens, entre outros. Dessa forma proporcionamos uma melhor compreensão da sua condição e um maior engajamento do paciente, com impacto positivo no grau de satisfação e resultado terapêutico.
Como é possível perceber, é importante tirar o papel da vida do médico e informatizar o maior número possível dos processos, e dessa forma otimizar todos os seus resultados.